CARNAVAL É NO BAIACU, VEM!
Acompanhe aqui todas as notícias sobre o nosso carnaval.
Concentração, esquenta, desfiles e bailes:
“Rendeira o Baiacu se rende a sua renda”
Compositores:
Jackson Cardoso, Reizinho Silva, Rolando, Julio Cesar Guedes, Alvaro Guimarães, Cristiano Uliano, Neco, Denilson Machado, Juliana Impaléa, Marcantonio Ferreira de Melo, Nestor Habkos.
Ó-lhó-lhó-lhô! Meu lindo Baiacu
Céu estrelado e tramóia das rendeiras!
A tradicional de Santo Antônio
Na ilha a folia até quarta-feira
É carnaval
Ao som do seu bilro a família sustenta,
Vinda dos Açores
Amores que se tecem na trama da renda
É carnaval
Me enredo nas rendas Maria Morena
E no enredo deste samba
O Baiacu é mais
A nossa rendeira
Baiacu falou pra mulher rendá
Tu me ensinas a fazer renda,
Que eu te ensino a namorar
Baiacu chamou a mulher rendá
Tu me ensinas a fazer renda,
Que eu te ensino a sambar.
ENREDO CARNAVAL 2016
“RENDEIRA, O BAIACU SE RENDE A SUA RENDA!”
Por Daniela Ribeiro Schneider (Coordenadora Geral da Associação Cultural Baiacu de Alguém)
Este ano de 2016 o Bloco Baiacu de Alguém homenageia, em seu carnaval, a renda de bilro, um dos mais tradicionais “saber-fazer” da cultura ilhoa, trazida pela colonização açoriana no século XVIII, assim como sua personagem central, a Renderia, que representa a força da mulher na constituição da Ilha e de sua economia.
Essa técnica não tem uma origem certa, mas há pesquisadores que dizem ter surgido já no século XV, em Flandres, na Bélgica, de onde se espalhou pela Europa, principalmente Itália e França, até chegar a Portugal e ao Arquipélago dos Açores, maiores centros de produção[1].
Os colonizadores disseminaram essa tradição por todo o litoral brasileiro, mas é Florianópolis a cidade que possui o maior número de rendeiras do país[2], tornando-se uma das características marcantes de sua cultura.
A renda é produzida sobre almofadas onde há um cartão desenhado. Com o manejar dos bilros de madeira e os alfinetes, trançando fios, transformam os traços do papel em peças de renda. A especificidade dessa renda tecer ou enfeitar peças de vestuário, toalhas de mesa, cortinas, lençóis, bijuterias. São diversos os tipos de pontos, mas os mais utilizados por aqui os da renda tradicional, os da tramoia, os da maria morena e os do céu-estrelado.
Ao manusear os bilros com notável destreza, as rendeiras produzem um som resultante do “bater dos bilros” que, para os poetas, tem ritmo e musicalidade semelhante aos estalidos que as “rendeiras” (aves da família Pipridae) fazem ao dançar³.
Fazer renda traz consigo a história e valores que caracterizam a cultura ilhoa[3] e imprime a marca singular desta identidade de “ser manezinho”.
Este trabalho artesanal é preservado em regiões específica da Ilha como a Lagoa da Conceição, Ribeirão da Ilha, Ponta das Canas, sendo uma forte tradição de nossas comunidades de Sambaqui e Santo Antônio de Lisboa. A tradição foi passando de mãe para filha, ao longo de gerações.
Porém, apesar da riqueza cultural embutida na renda de bilro, a arte vem sofrendo declínio. As artesãs encontram dificuldade para comercializar as peças, que requerem tempo para ficarem prontas. O trabalho detalhista é pouco valorizado, dificultando que as novas gerações ganhem seu sustento com a venda da renda e, muitas vezes, fazendo com que não se interessem em aprender o manejo dos bilros². A especulação imobiliária vem ocupando os lugares onde antes havia casas de produção e venda do artesanato.
Por outro lado, ocorre hoje na Ilha e em nosso distrito de Santo Antônio um movimento de resgate dessa tradição, com foco no empreendedorismo e na promoção do comércio justo da renda de bilro, com olhares voltados para sua economia criativa.
Trançar os fios da renda possibilita amarrar as tramas de nossa história, lançando-a para novos futuros, ao retecer as amarras de nossa rede social comunitária e consolidar nossa identidade cultural ilhoa.
Por isso, Rendeira: o BAIACU se rende à sua renda!!!
[1] http://www.guiafloripa.com.br/cultura/artesanato/renda-de-bilro
[2] http://ilharendada.org.br/historico/
[3] Zanella; Balbinor & Pereira, 2000. In: http://www.scielo.br/pdf/es/v21n71/a11v2171.pdf