Como dito, o baiacu só aparece no carnaval, e num desses anos, daqueles cujo calor era insuportável, o Baiacu saiu das águas geladas, e mesmo antes de pisar na areia seca da praia como homem, já era esperado por uma multidão de donzelas enlouquecidas. Neste mesmo dia, uma Maricota, de três metros de altura, passou pelo burburinho, e em nada foi atingida. Foi o bastante para chamar a atenção do descansado Baiacu quanto a questões femininas. Dispersando-se do tumulto das mulheres enlouquecidas pelo seu mágico encanto, foi atrás da séria moça, e dando voltinhas ao seu redor, obteve apenas da distinta, com um ar meio de desprezo com estranheza, um simples, “posso ajudar em alguma coisa?”. Imune à magia que encobria o famoso peixe, a moça foi embora para o baile de carnaval que acontece todos os anos no clube Avante de Santo Antonio de Lisboa.
Bem que tentou, mas não conseguindo desprender-se da dona que não lhe deu a mínima, o Baiacu deslocou-se para o tal baile em Santo Antonio. Era a primeira vez que o Baiacu teria de fazer algo para chamar a atenção de uma donzela. Desacostumado, ou melhor, sem nenhum jeito para a coisa, fez a única coisa que sabia fazer, enquanto sujeito: se coçar e inchar, ficando com a pele toda brilhante pelo espichamento. Trabalhou tanto, tanto, mas nada conseguiu. Descobriu, o rapaz, pela primeira vez, o sabor do fracasso.
Feito Pierrô desmantelado entregou-se ao cansaço e sentou-se ao chão derrotado. Sua expressão era de tanta desolação, que chamou, desta feita, a atenção da gigantesca Maricota.
Aqui também não se tem notícia certa, mas se sabe que os dois se amaram na praia de Santo Antonio, atrás das pedras que ficam em frente onde hoje está o Cantinho das Ostras. Dizem uns, que a Maricota teria ficado com o Baiacu por compaixão, outros ao contrário, dizem que em seu esforço de aproximação da moça, teria o Baiacu lhe conquistado o coração. Ambos os casos não passam de especulação das línguas faladeiras.
Dada a fertilidade do sestroso rapaz, a Maricota, tal como a Bernunça do Sambaqui engravidou, mas ao contrário da primeira, esta assumiu e criou sua filha em Santo Antonio de Lisboa.
Numa daquelas idas à Sambaqui no carnaval, a Baiacunça descobre, através do pai, que tinha uma irmã. Não foi difícil encontrar em Santo Antonio a sereia Baiacota, corpo de Baiacu e cabeça de Maricota. No encontro, a alegria invadiu as duas, muito mais a Baiacunça que havia passado toda a vida presa no corredor de salvar-se da solidão, tentando encontrar sua mãe. Agora não mais solitária a Baiacunça convida a irmã por parte de pai, a ir com eles no domingo de carnaval procurar sua mãe em Sambaqui, o que entusiasmou a delicada sereia.
Depois de conhecer a irmã, a Baiacunça deixou a vida de rua e foi morar com a mesma em Santo Antonio de Lisboa, e o pai voltou para mar, mas desta vez nas águas de Santo Antonio, prometendo às filhas que nos carnavais seguintes, apareceria em Santo Antonio de Lisboa, na Sexta feira de carnaval, antes do desfile do Bloco Unidos do Avante.